segunda-feira, 18 de maio de 2015

Viver o amar

Os textos se tornaram escassos desde que o amor me invadiu, um tanto contraditório não ter o que escrever em meio a tantos sentimentos. É que em meio a tanta descobertas e surpresas maravilhosas da vida, o imprescindível é viver, escrever fica pra depois
Mari

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Eu não preciso de você

Eu não preciso de você. Eu preciso perder a barriga, preciso de um ferro de passar roupas e preciso mandar lavar o carro. Mas de você eu não preciso. Talvez até eu precise me vestir melhor, usar um corte de cabelo mais moderno e comprar papel higiênico – está acabando. Mas definitivamente eu não preciso de você. Mas eu quero você. Um diabético não deseja a insulina.  Eu não adoro meu remédio da tireoide que eu tenho que tomar todos os dias. Mas eu preciso dele. E um diabético precisa da insulina. Ambos por não termos opção. Eu não preciso que você me entenda como ninguém nunca me entendeu, nem que você me acalme como você sempre faz, muito menos preciso daquele carinho no pescoço que você faz sempre quando me beija, como se você fosse a minha esposa e eu um soldado que passou dez anos em uma guerra do outro lado do mundo. Mas eu quero que você me entenda, me acalme e me beije desse jeito. Sempre.

Eu não preciso conversar com você por horas todos os dias, nem deitar no seu colo e ganhar cafuné. Tampouco preciso ouvir você falar apaixonadamente sobre teatro por horas e horas. Mas conversar com você, ganhar cafuné e ouvir você falar – linda! – sobre teatro por horas a fio é o que eu mais quero nesse momento. Não por necessidade, porque se fosse isso, não importaria o que eu sinto, seria somente algo que eu preciso. Eu poderia, hoje por exemplo, ficar em casa, sem fazer nada. Mas eu preferiria sair para passear com você. A minha vida sem você não seria impossível. Eu não ia morrer nem virar um ermitão nas montanhas. Mas com você a minha vida seria muito mais divertida, não há como negar isso.

O meu remédio para ansiedade tem quase o mesmo efeito que você: me acalma, me deixa menos impulsivo e menos ansioso. Mas eu não queria ter que toma-lo. Já você, se pudesse eu tomaria você de quatro em quatro horas, cinco vezes por dia, e o efeito seria sobremaneira melhor que o do remédio. O remédio não fica com os olhos fechados por vários segundos depois que me beija nem fala com voz doce quando precisa me dar uma bronca. Dizer que eu preciso de você seria minimizar todo o bem que você me faz. Seria como dizer que eu preciso de um remédio ou de camisas novas. Poder ser quem eu sou de verdade, sem ter que disfarçar nada nem esconder nem um pedacinho é algo que eu nunca havia experimentado. E admito que é bem melhor do que eu imaginava que pudesse ser. E viver isso não é uma questão de necessidade. É uma questão de liberdade, de paz de espírito. A paz de espírito que você me traz quando me faz carinho enquanto eu dirijo e quando fala, ao final de toda mensagem: “Fica bem”. Não a paz de espírito que eu preciso. Mas a paz de espírito que eu quero. Assim como quero você.

Léo Luiz     http://www.entendaoshomens.com.br/eu-nao-preciso-de-voce/


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Quem ama tem um quê de guarda costas

Hoje de manhã – diferente das primeiras vezes em que a levei até o lar dela – eu só consegui me sentir aliviado depois de tê-la visto fechar, em total segurança, o portão que separa o Edifício Arminda da parte pública – e supostamente mais perigosa – do mundo. Após o beijo de “tchau” e antes que ela tivesse tempo para sair do meu carro, eu fiz a varredura visual dos poucos metros que a separavam da porta para a qual ela estava prestes a se dirigir – exatamente como faz um guarda-costas profissional. E, felizmente, não identifiquei elementos suspeitos ou possíveis ameaças àquela que amo. Mas continuei de olhos arregalados, atento aos mínimos passos dela e pronto para entrar em ação caso algum meliante, tarado, cão raivoso, abelha teleguiada, barata voadora ou camelô insistente resolvesse ameaçá-la. Mas nada ocorreu. Ela apenas fechou o portão de ferro, virou-se para mim e acenou sem fazer alarde ou descolar o cotovelo do corpo; e, assim que a luz do farol ficou verde, pude perceber que ela fitou o meu carro até onde a miopia dela permitiu.

E se está me achando um baita de um exagerado graças ao que descrevi no parágrafo acima, você, caro leitor, certamente não ama ninguém e, obviamente, nunca amou. Porque o amor, irmão, sempre nos torna seres zelosos e extremamente preocupados com o bem-estar daquele (a) que amamos.

E o meu zelo pela moça que amo não se limita às vezes em que a deixo em frente ao prédio no qual ela mora; meu cuidado vai muito além: quando estamos em um show, por exemplo, muitas vezes, ao invés de olhar para o palco, eu permaneço atento aos potenciais focos de confusão. E sabe por que eu faço isso? Não faço por mim, óbvio! E sim para aumentar as chances de conseguir protegê-la caso comece um corre-corre ou um quebra-pau.

E quando ela engasga (não pensem besteira!) então? Tirando o uso do vocativo “bem”, que me parece um pouco antiquado, eu digo as mesmas palavras (“Beba água, bem! Passou? Beba mais! Passou? Erga os braços! Passou?”) que a minha avó diz ao meu vô que – mesmo depois de anos de treino – ainda insiste em engasgar em todas as refeições.

E nas vezes em que ela, antes de rumar ao trabalho, beija-me a testa e pisa manso para não me acordar, por amor e só por ele, eu sempre consigo arrumar forças para abrir as pálpebras e analisar se ela está bem agasalhada e com os cabelos secos. E se ela por acaso estiver com a vasta cabeleira úmida, com a voz embriagada de quem está sonado por ter ficado dentro do Netflix até altas da madruga, eu invento: “O secador de cabelo não atrapalha o meu sono, cabeção!”. E tento, sempre em vão, voltar ao mesmo sonho. Ou fugir do velho pesado.

É, pensando bem, talvez eu seja demasiadamente zeloso. Mas, e daí? Se leio as contraindicações dos remédios que os doutores apressados a mandam tomar, é por amá-la a ponto de não querer vê-la, em hipótese alguma, sentindo qualquer efeito colateral ruim. Se displicentemente entrego o meu peito, de bandeja, ao vento gelado da madrugada, é por não suportar vê-la tremendo de frio. E se fico triste a cada vez em que a ouço dizer que está sem saco para se cuidar, é, com certeza, por saber que muito depende também dela.

Se quando a gente gosta é claro que a gente cuida – como bem diz a música Sozinho – fica bem fácil de imaginar (mas impossível de medir!) o tamanho do zelo de quem ama.

Ricardo coiro 

http://www.entendaoshomens.com.br/quem-ama-tem-um-que-de-guarda-costas